Mister Bode
“Há três seres que caminham com elegância; …que se movem com passo garboso: o leão... o bode; e o rei à frente do seu exército.” (Provérbios 30:29-31)
Por Administrador
Publicado em 13/04/2025 15:42 • Atualizado 13/04/2025 15:47
Geral

Ele é esguio, musculoso e majestoso. Ele não anda, desfila. Não gosta de ser encarado e é de pouca prosa. Quando desafiado, se põe em duas patas, se elevando acima do adversário, revelando todo o seu potencial de guerreiro implacável. Dizem os antigos que seu odor afugenta até animais peçonhentos. Como um rei, mantém o peito proeminente e a cabeça altiva, pois é garboso e acredita na sua onipotência. Cuidadoso com os seus e vigilante constante, basta algo sair do normal, que ele já vai ver o que está acontecendo. Sua autoridade junto ao rebanho é inegociável. Senhoras e senhores, com vocês, a sua majestade, o senhor bode!

A cultura popular denegriu os caprinos, principalmente, o bode. Sua imagem está ligada a coisas infernais e diabólicas. No entanto, em muitas culturas antigas, os bodes tinham um significado simbólico. Eles eram associados à fertilidade, prosperidade e proteção. Em alguns casos, os bodes eram considerados sagrados. Na Bíblia, é um animal usado em sacrifícios para expiar os pecados das tribos de Israel. A partir dessa prática, surgiu a expressão "bode expiatório", que é usada para designar uma pessoa que recebe a culpa por um ato que não cometeu. A história bíblica lhe dá um lugar de destaque:

 ·      Ele foi considerado animal puro, pois rumina e tem casco fendido.

 ·      Ele participava diretamente do culto ao Senhor, sendo sacrificado no dia da expiação nacional, junto ao Cordeiro.

 ·      Ele era oferecido como uma oferta a Deus, seja como holocausto ou como oferta de paz.

 ·      Ele é símbolo de força,coragem e majestade, como o rei e o leão.

 

No mundo antigo, quando as pastagens eram grandíssimas e os animais selvagens viviam à espreita, quem vigiava o rebanho para o pastor, era o bode.  Diante de um ataque iminente, ele se colocava entre os seus e os invasores, dando ao rebanho a oportunidade de debandar e, consequentemente, o socorro pastoral.

 

No contexto evangélico, criou-se um conceito que o bode não presta, haja vista a quantidade de mensagens contrárias as atitudes dos “bodes” (dos membros). Acredita-se que o cristão não deve ser um bode, pois Jesus só tem ovelhas. Enganoso isso. Veja bem. Quando a bíblia chama a igreja de rebanho, ela está se reportando a atividade milenar pastoril. Naquela época, um rebanho não era só constituído de ovinos (ovelhas), mas de caprinos, vacum, cáfila e muares. Cada um destes elementos tinha um papel importante para o equilíbrio da atividade pastoril. E o bode era um desses indivíduos que fazia parte dos insubstituíveis junto ao rebanho.

·      O bode inspecionava o rebanho, separando animais que não pertenciam ao seu clã.

·      O bode mantinha a ordem junto aos demais membros, dando cabeçadas para acalmar e separar brigões.

·       O bode ficava à frente do aprisco para impedir que o rebanho saísse em disparada, resguardando crias, doentes e velhos para não serem pisoteados.

·       O bode era um eterno vigilante do rebanho, mesmo à noite ou preso no aprisco improvisado, ele mantinha à guarda.

·       O bode era o guia do rebanho, conduzindo para pastagens melhores e mais seguras.

 

O único indivíduo que o bode temia, mas não respeitava, era o pastor. Na cabeça Bodil, quem é o dono do rebanho é ele, não o homem. Por isso, de tempos em tempos, haviam conflitos entre o bode e o pastor. Ele se levantava à frente do homem, inclinava a cabeça, direcionando os chifres para o peito do pastor. Neste momento, o pastor, jogava sal em seus olhos, afugentando e acalmando à fera. Para reatar a confiança estremecida, o pastor oferecia, na mão, ao bode, o doce mais doce, o mel. Em poucos minutos a paz reinava novamente no meio do rebanho. Pastor e bode voltavam para os seus postos de vigilantes atentos.

Qual a importância da teologia Bodil na igreja?

·       Confrontar os membros

·       Testar a verdade de quem se pronuncia

·       Selecionar o novo que quer se instalar

·       Impedir mudanças bruscas de tradição e litúrgica

·       Tratar com objetividade os problemas da igreja

·       Permanecer junto ao rebanho mesmo passando por dificuldades

·       Exortar os desanimados e repreender os desordeiros

Podemos até substituir o pastor, mas não temos como ignorar ou fazer calar o membro com o caráter bodil.  Seus defeitos se nivelam junto aos outros elementos do rebanho, porém, as qualidades, o conferem o título de guardião inseparável do rebanho. Com sua força, coragem e determinação, ele é um insubstituível aliado do pastor, ou não.

A teologia pastoral necessita urgentemente entender que há uma Teologia Bodil. Os bodes estarão presentes em todas as igrejas atestando a fé e as convicções dos crentes, inclusive do pastor. Ignora-la, é pôr em risco a paz e o crescimento da comunidade. Contudo, os grandes acidentes no ministério pastoral não são com “bodes” que nos confrontam à vista de todos, mas com cordeiros que nos abraçam amigavelmente. Nossas feridas não veem das chifradas dos “bodes”, mas das traições dos “cordeiros”. Sofrer no oculto é mais doloroso que se envergonhar em público!  Então, aprendamos com Cristo a separar bodes das ovelhas. Esse é um dom que não pode faltar quando se trabalha com o rebanho do Senhor! Se o “bode” te enfrentar, queima lhe os olhos com sal, mas depois, lhe ofereça mel para reatar a comunhão, pois tê-lo como adversário pode nos custar o pastorado.

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