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Porto Triste, não! Porto Alegre.
Maripá
Publicado em 24/05/2024

“…Estou fazendo grande obra, de modo que não poderei descer…” (Neemias‬ ‭6‬:‭3‬)‭‬‬‬‬‬‬

A humanidade busca, desesperadamente, ser construtora, inovadora e visionária, por isso não aceita o retroceder, e sofre quando tem que ceder, principalmente, o recomeçar. O novo sempre pede passagem.  Porém, temos que aprender: grandes saltos, vem precedidos de inevitáveis quedas.  O recorde é a soma de inúmeros insucessos. Temos aprendido, que o sofrimento é o melhor instrumento de crescimento e fortalecimento! Crescemos mais ajoelhados ajuntando, do que em pé edificando. Porém, sabemos, por experiência, nunca será fácil reiniciar, mais uma vez, outra vez, novamente…

Diferente de construir, que nos alegra por aquilo que sonhamos e planejamos, reconstruir nos entristece, pois quase sempre está voltado a perdas. É um sentimento de derrota, por aquilo, que tanto lutamos para adquirir, e já não preserva mais a sua originalidade. Reconstruir vem precedido de dor, de lamento, de sofrimento e lágrimas, e mesmo que haja todo o empenho, para se recuperar, a glória da segunda casa não é maior que a primeira. Pior, a memória afetiva nos remeterá, constantemente, a planta original, a pintura original e aos contornos originais, que não existem mais. Podemos até suspirar por estarmos vivos, mas não temos como aquietar o coração pelos agravos sofridos e as perdas contabilizadas.  Quem constrói põe o coração e a vontade à frente, e não está preparado para perdas. Contudo, mesmo que nos lasque a alma e nos faça sofrer e chorar, recomeçar é preciso!

· Os filhos gerados no caos e forjados no fogo, são mais fortes, que os nascidos no paraíso. 

· A comunidade, que chora e sofre unida, caminha mais perto e estreita os relacionamentos.

· Quem não tem o que comer, aprende a comer o que tem, e come pela fome que vem.

· A perda gera novas visões, novos aprendizados. Talentos são redescobertos e ganhamos novos rumos.!

· O teste da perda, revela a verdadeira condição e estrutura humana que temos.

· Na catástrofe, toda opinião é bem-vinda e todo voluntário se torna salvador.

Cientes estamos, o esforço da reconstrução, nos remete ao universo das redescobertas. Há lições que precisamos aprender, para não ter que lamentar outra vez:

· Esquecemos de consultar a natureza sobre a permissão do uso do seu espaço.

· Investimos mais na estética, do que na segurança planejada.

· Buscamos mais a facilidade de deslocamento e bem-estar, do que a previsão de uma hecatombe.

· Descansamos mais na razão dos cálculos, do que na realidade do sobrenatural.

Não há dúvidas, que construir é bom e deve servir para prosseguir, contudo, criar tem a ver com posses, condições e poder, mas reconstruir nos remete a solidariedade, a dependência, ou seja, construir nos deifica, enquanto que reconstruir nos humaniza.  Construir tem a ver com foco, com prioridade, diferente de reconstruir, que nos faz abrir os braços e aceitar gostoso o desconhecido que atendeu o nosso apelo, que ouviu o nosso clamor. Construir nos leva as festas, as inaugurações, mas reconstruir nos lança ao chão, ao pó e nos faz clamar por Deus. Construir diz: olha o que fizemos! Reconstruir diz: olha o que realmente somos! Construir está atrelado a mobílias, estética e ornamentação, mas reconstruir se abriga pessoas, se acalma aflitos e se acolhe o triste de coração.  Há mais calor humano na reconstrução do que nas grandes construções. Quando se salva gente, cachorro, pássaros e cavalos o foco, mais uma vez, está voltado para aquilo que vale a pena, o homem. A dor nos coloca, novamente, aos trilhos da nossa humanidade. Prefiro viver com um povo, que perdeu tudo, onde há amor e solidariedade, do que não ser notado por uma sociedade que exala ostentação. No cortar da fita, sobra coisas, mas falta gente, contudo, na reconstrução, não há bens, mas ganhamos irmãos. E a verdade é esta: há mais alegria sincera na casa reconstruída, do que na recém inaugurada! Uma taça de vinho entre os dedos tem menos significado, do que as mãos banhadas de lama.

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